domingo, 9 de outubro de 2011

Real


Um dos meus grandes vícios são as cores.  Ao entardecer tenho mania de olhar de leste ao oeste para comparar o degradê de cores que o céu deixa a minha disposição todo o dia. Tirando a deliciosa atividade infantil de colorir desenhos (coisa que fazia com maestria) e apesar de ter uma mãe que carrega o talento da pintura na veia artística; eu nunca pintei. Meu jeito de pintar e estar, sempre que possível, conectada as cores foi com os vidros de tintas para unhas que comumente chamamos ESMALTES.
Consegui uma centena de vidrinhos e hoje ganhei de aniversário parte de uma coleção. O presente veio de uma guria super docinho que pude conhecer esse ano e ser presenteada me fez pensar em como uma pessoa se torna real.
Pretendo falar de defeitos, aspectos físicos e até mesmo de ciúmes (algo que definitivamente faz um relacionamento ser real) mas, em outra oportunidade. Hoje quero falar de vícios. Sim, vícios. Uma pessoa de verdade tem um vício. Não estou falando de dependência em cigarros e bebidas ou manias esdrúxulas como cortas os próprios pulsos. Não gostaria de amar alguém que agregou a sua existência um elemento ou hábito que a destrói, que faz mal. O encantador de pessoas de verdade são as pequenas mania ou gostos que as vezes está até alheia a consciência do próprio viciado e que enche de sorrisos e possibilidades conviver com alguém assim.
A maior viciada em esmaltes que conheço é uma professora de história que me deu aula a pouco tempo e que ainda temos o prazer de manter uma boa amizade. Sempre guardei um carinho imenso pelo relacionamento dela, algo que sempre que ela descreve tenho vontade de construir um relacionamento daquela forma. Ele não é nada bonito fisicamente mas parece ser incrível, sempre que vou ao teatro ou assistir um filme cult. Ou ainda em algum vernissage os encontro e meus olhos brilham. Aos poucos foi inevitável imagina-lo trazendo parte de uma coleção nova de esmaltes para ela em um dia comum assim como essa minha amiga me trouxe hoje e com olhos brilhantes ele dizendo que foi comprar pão ou cervejas e que viu aquele kit em uma sacolinha, ali exposto e se lembrou dela.  Não precisa nem dizer que coloquei naquele casamento que julgo perfeito, uma atitude tão gracinha que nasceu lá do fundo dos meus sonhos de comédia romântica ou sei lá o que. É isso que eu quero que aconteça um dia para mim. A verdade é que isso não aconteceu com ela. Apesar de alguns anos de casados, anos de vício em esmaltes, duas lindas filhas e dezenas de filmes e exposições, centenas de diálogos; só a pouco tempo ele soube que ela é uma grande viciada em vidrinhos cheios de compostos químicos de infinitas tonalidades. Sim, nobres leitores, ele encontrou uma caixa cheia de vidrinhos e com olhar espantado a viu mostrar outra caixa cheia e mais outra.
Minha mãe adora pinças e tem mania de procurar fiozinhos de cabelo pelo rosto, meu irmão adora cotonetes e uma caixinha daqueles palitinhos com algodão nas pontas o faz imensamente feliz. Conheço um lindo pela internet que adora conhecer novas cervejas, sonho um dia conhecer alguém que colecione gibis ou selos.
Isso faz uma pessoa real, as coisas que ela gosta e desconheço prazer maior nessa vida do que visualizar um sorriso em harmonia com um olhar brilhante e um ar de surpresa daquela pessoa que tanto bem você deseja ao se deparar com algo que ela procurava. Isso é amar não ter receios de amar. É atirar-se no prazer de ver o outro feliz, seja com uma pinça ou um cotonete!