segunda-feira, 28 de junho de 2010

Não sei quando tudo começou... Sinto-me incomodada com tudo e aqueles sorrisos não saem de minha memória. Conhecem-me, sabem de mim algo que desconheço, são meus amigos e nem ao menos lembro a eles ter me dirigido.

Não sei o que está a acontecer e tenho medo.
Talvez essas coisas estranhas estejam a acontecer há muito tempo, creio não ter percebido, sou do tipo que anda a olhar o céu e o chão, tenho asco as pessoas, odeio seus rostos e quanto mais longe meu olhar está deles mais pleno creio ser. E por mais que os evite eles parecem amar minha face, tomam gosto e é difícil e deve ser realmente difícil romper o magnetismo que meu rosto executa em seus olhos. Nesses momentos sou apenas ira.
Estava a andar pela minha rua, Alameda 19. Morei por anos neste mesmo lugar e poucas foram as pessoas que ali conheci. Quando jovem fazia pequenos favores para minha mãe e avó e desde então odiei aqueles olhares. Estava a andar iria a um pequeno mercado que ali havia. Andava com meu jeito que todos julgavam por demasiadamente estranho; um olhar me fisgou, não era como os outros, esse tinha reconhecimento, olhar de quem se conhece a muito. Era uma menina. Cabelos assanhados, dentes um tanto tortos, roupas encardidas de brincar. Sorriu-me como quem diz: “ainda guardo teu segredo, não se desespere”. Olhei-a e tive culpa quis pegá-la pelos ombros e exigir uma explicação. Eu a conhecia, não havia dúvidas, mas de onde? O que lhe disse? Aquele olhar me suplicava uma brincadeira, suplicava meu tempo e mais uma conversa. Também aquele pequeno demônio queria roubar-me as palavras. Outro já devia ter-me roubado a memória.

Loucura. Para que gastar meu tempo com essas pequenas preocupações, sabia não ser nada. A pequena mora em minha rua, devo tê-la visto, nada mais, coisa de criança olhar assim os transeuntes.

Agora voltava para casa, sentia dores, estava com o rosto pálido e minha aparência estava péssima. Cansaço. Ansiava um banho, comida e alguém para dormir nos braços sentindo um afago pelos cabelos, as costas. O dia da morte de meu grande, o melhor entre tantos; ateu. Como quis dormir em algum braço nesse dia. Estava a descer daquele imundo coletivo, tantas pessoas sempre me fizeram muito mal. Ela era jovem, magra, o rosto cheio de espinhas, uma calça estranha a mostrar as canelas. Reconheci. De onde? Olhou-me, sorriu, chamou-me e não pude ouvir o nome que a mim dirigiu. Como? De onde? Meu olhar tinha súplica, dúvida. Ela se envergonhou não disse mais nada só desceu e seguiu seu caminho. Podia ter lhe chamado, perguntado e matado toda essa dúvida que há anos persegue-me. Não pude, não sei conversar com as pessoas. Converso comigo, com o papel. Não mais que isso, não posso! Elas querem roubar-me.

Desde então nunca teve fim. Eu que a ninguém dirijo. Eu que delas tenho asco, que as evito o máximo que posso, elas dizem me conhecer. Chamam-me para suas brincadeiras, chamam-me pelo nome, fingem preocupar-se deixam o sorriso, a dúvida nada mais.

Dêmonios.

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